Se eu pudesse contar o tanto que ri
de amigos na vida, com certeza era um riso para cada pessoa no mundo. E até
hoje eu sou assim, nunca perdi a graça. Os momentos pelos quais eu chorei,
ainda a pouco, estão sempre vivos em minha memória. Fui o tipo de garoto que
fazia brincadeiras com todos os amigos, hoje mais controlada é claro. Pois
dizem que é bullying, já não gosto de nome, primeiro porque não escreve do
jeito que ler e segundo porque uma multidão de pessoas se oprimem por causa
dele.
Minhas brincadeiras nunca tiveram
sérias consequências, até porque eram saudáveis e nunca machucou ninguém. Tive
a dádiva de conviver com ótimos "aceitadores de apelidos" na época.
Eu era do tempo em que todos me
esperavam na escola para sentar comigo e ouvir piadas, muitas vezes até sobre eles.
Eu nunca procurei diferencia-los, lembrava apenas dos defeitos que possuíam,
ríamos disso e íamos para casa sem nenhum ressentimento. E minha turma era, de
fato, uma inspiração para mim. Lembro-me de Calanga elétrica, ríamos de sua
deficiência com a cabeça, pois, em movimento repetitório ela ia para o lado
como uma máquina de escrever. A chamávamos de Calanga, e para os íntimos, pescocinho.
Fazíamos até uma brincadeira, do tipo que perguntávamos:
-Calanga, já pescou hoje?
Ela - Não, porque?
E ironicamente respondíamos:
- "PERCOCINHO"
Ela ria, nós ríamos e os professores
riam. Ríamos de nós mesmos. Como por exemplo a Sarita, ela era fofinha, acima
do peso (não sei bem como definir, sem ofender ninguém, se faço isso me perdoem
pois não é por mau), lembro-me de um dia que ela amassou uma de nossas cadeiras
da sala de aula que era completamente de ferro, ela estava caminhando sobre as
cadeiras e caiu encima de uma. A sala toda caiu na gargalhada porque só
reforçou o título de "gorda da sala". Outro episódio marcante
aconteceu com Angelina, a chamávamos de "Bode Velho ou Mc Bodão", que
insistência no talento de cantar! coisa que por sinal ela não sabia fazer. Em
um desses projetos do governo (FACE) Angelina resolveu se inscrever criando uma
música própria para concorrer em uma disputa estatual. Quadra lotada para
assistir essa apresentação marcante de Bode Velho, quando ela começa a cantar:
-Eu sou a Deusa dos ventos, rainha do
mundão...
Um inimigo da humanidade que estava
sentado ao meu lado resolve completar a frase e grita:
-Eu sou Mc Angelina, a Mc Bodão.
Acabou que tivemos que deixar o local
para que Angelina pudesse cantar sem nenhuma interferência. Mas, foi assim o
ano todo. Claro que ela começou a aceitar e até brincava com a gente.
Tinha também a mais
"influenciável" da sala, era de uma falta de inteligência
assustadora, brincávamos, até porque ela não era loira, sendo assim
inexplicável a sua burrice. A chamávamos de "Monkey", dizíamos que
era macaco pelo fato dela levar em todas as aulas uma banana. Sempre a
tirávamos das aulas dizendo que tinha caído um avião na quadra e ela sempre
saia para ver. O fato mais marcante foi quando fizemos ela ameaçar uma
cozinheira da escola porque dissemos que ela estava espalhando boatos que viu a
"Monkey" jogando uma calça de uma garota dentro do banheiro feminino,
coisa que ela nunca tinha feito, mas tanto que colocamos na cabeça dela, que ela
acreditava que tinha feito. E como não lembrar da Mulher bambu, fazíamos até músicas
e dançávamos para ela.
"Ú....ú....ú.... é o funk da
mulher bambu. Balança, balança, balança tu, junto com a mulher bambu".
Chego a pensar que dariam uma dupla
genial de comedia, "A mulher Bambu e Mc Bodão", seria de fato um
talento esplendoroso. A dupla "Luerla e Lorrane Vecanani Buenao de Hahaha
Raio Lêiser Bala de skiss" era uma atração, gravávamos vídeos de suas
brigas, eram punhados de cabelo que tiravam de forma violenta e no final
acabavam pintando as unhas um do outro. Tinha Kaline, a mulher sem queixo, que
amava as bolachas "poca zoi", Auna Neves, que chamávamos de Kuroi,
que todo mundo achava que significava "preto" na Africa. Ysla
Maizena, que na aula de biologia toda doença que a professora citava a avó dela
tinha, sempre dizíamos que a vó dela já estava com o pé na cova, mas vive até
hoje, acreditem!
Havia outros que não tinham apelidos,
mas faziam parte da turma do velho Deocleciano e Frei José da Encarnação.
Às vezes até íamos para a diretoria
por algo que eu fiz, mas ninguém me dedurava, porque gostávamos das
brincadeiras, a sala toda tomava punição, não era que eles tinham medo de ser
apelidados para a eternidade, era que respeitavam as brincadeiras de uma
maneira com que não se machucavam. Eram outras pessoas, eram outros tempos.
Tempos esses, inclusive, os melhores deles.
Todos eles são meus amigos até nos
dias de hoje, sempre damos boas gargalhadas juntos, lembrando de tudo o que
passamos. E acreditem! choramos de saudade.
Não havia esse tal de "bullying"
para nos deixar com raiva uns dos outros, ou doenças psicológicas, porque
entendíamos que era apenas risos e brincadeiras. Só existia felicidade.
Que Deus mantenha em mim viva todas
as minhas recordações, todos os amigos que tive a honra de "apelidar"
carinhosamente cada um deles. Só os agradeço sempre pela grandiosa e
maravilhosa história que me proporcionaram aos seus lados.
Seção adivinhem quem são: